terça-feira, 26 de julho de 2011

Querem roubar o trabalho do Diabo?

Hoje trago-vos um assunto que tem assombrado todos os portugueses e os jovens em particular, o desemprego.
Ontem vi em vários “murais” no facebook, referência a um artigo escrito no jornal de negócios que se intitulava: “Saiba quais os cursos superiores com mais e menos emprego”. Ao mesmo tempo, via que várias pessoas se regozijavam, ora porque afinal o desemprego não está tão mal como os economistas (aqueles senhores feios e maus que só vêem dizer coisas tristes à televisão) dizem, ora porque no total de licenciados no seu curso, apenas 1 ou 2% estão desempregados.
Bem… depois de ver algumas reacções à notícia, e quase todas bastante positivas, pensei que afinal estava um bocado a leste do que se passava no nosso país. Afinal não há desemprego? Afinal não há cursos que não servem para nada? Afinal não há vagas a mais para alguns cursos? Afinal onde é que andei este tempo todo? Aparentemente Portugal é um óptimo país para os recém-licenciados.
Não me deixei levar por este optimismo e decidi ver pelos meus próprios olhos o que afinal se estava a passar em Portugal e com os licenciados portugueses.
Nem tive tempo de ler a introdução da notícia, dado que o meu grande entusiasmo e curiosidade me obrigaram a passar imediatamente para os números. “Ora… economia na FEP, como é que isso anda…4.3%. Não tá mau, mas…”. Depois olhei para as restantes instituições e reparei que existem 8 com uma taxa de desemprego abaixo dos 5% e que a percentagem de desemprego para a que tinha um pior desempenho não era assim tão alto. Além disso, reparei que se fosse estudar para a pacata zona alentejana ao invés da apaixonante vida nortenha, certamente tinha um futuro mais risonho à minha frente. Desta forma, a minha desconfiança parecia ter desaparecido, já que se apresentavam números bastante razoáveis à minha frente e aqueles que no facebook comemoravam a situação de desemprego do nosso país, aparentemente, tinham razão.
Será que havia um erro com o meu curso? Será que era só economia que não estava assim tão mal? Será que as grandes empresas estão no Alentejo? Decidi ver o resto dos números…
Depois de dar uma olhadela na generalidade dos cursos, percebi que economia até era um curso com um dos piores desempenhos em termos de empregabilidade, percebendo desde logo que o “estudo” era afinal demasiado optimista.
Decidi então procurar a fonte de informação para a redacção deste artigo.
Os dados tratados pelo Negócios foram retirados do estudo “A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior – 2010” do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI). Neste estudo são publicados os números de diplomados por cursos (públicos e privados) nos anos 2006/07, 2007/08 e 2008/09.
Ah! Isto não é recente, é baseado num estudo lançado em 2010 com dados referentes aos anos anteriores, nomeadamente aos licenciados de 2006/2007 até 2008/2009, ou seja, pessoas que entraram na universidade no inicio deste século e que saíram numa altura em que o nosso país não estava nesta profunda crise.
Posteriormente, decidi dar uma vista de olhos no tal estudo que considera como desempregados apenas aqueles que estão “inscritos nos centros de emprego: Instituto do Emprego e Formação Profissional, I. P. (IEFP/MSST) que, através do Sistema de Gestão e Informação da Área de Emprego (SIGAE), regista as inscrições dos candidatos a emprego”, ou seja, uma pessoa que trabalhe numa área que nada tenha a ver com a sua formação, nada interfere no estudo e contribui para a elevada taxa de empregabilidade do curso. Eu tanto posso estar a trabalhar na Mckinsey como no Pingo Doce, que contribuo da mesma forma para o estudo.
Pior que todos estes factos, é a introdução do artigo, que apenas tive paciência para ler depois, que nos diz:
Até dia 17 de Agosto, milhares de estudantes vão decidir o seu futuro profissional, preenchendo a candidatura ao Ensino Superior. O leque de escolhas é alargado, estando disponíveis 54.068 vagas de licenciatura, distribuídas por um total de 1.181 cursos. Saiba quais os cursos com melhores condições de empregabilidade e aqueles que apresentam níveis mais elevados de desemprego.
Está aqui um trabalho dos Diabos, que nem o próprio Lúcifer conseguiria fazer com tanta qualidade. O artigo tem como objectivo aconselhar os jovens portugueses acerca do seu futuro, ou seja, os jovens portugueses devem ter em conta o que se passou há 4 anos atrás e não diferenciando o tipo de emprego, se é na área ou não. Além disso, escreveram a frase referindo-se ao presente, quando os dados dizem respeito ao passado, ainda por cima os dados que são…
Certamente que daqui a 5 anos ainda veremos crianças a optar por Informática na Portucalense ou Direito da Lusófona, ou mesmo centenas de alunos a continuarem a escolher Enfermagem, já que aparentemente parecem excelentes escolhas. Não sei se o Pingo Doce terá assim tantas vagas, mas se tiver, dêem graças a Lúcifer! (ou a quem anda a fazer o trabalho dele).
Não se enganem! A luta pelo emprego é tão grande que até o trabalho do Diabo querem roubar!

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