terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Post de Pescada nº3: Notificações

Olha Post de Pescada fresquinho! É de fruta ou chicoláteee! Na verdade é de notificações, o bordão de vendedor de gelados foi só para chamar a vossa atenção, uma vez que este tema tem o interesse equivalente ao de um sarau de filatelia (*) organizado por fãs de numismática (**).  

(*) - Totós que coleccionam selos.
(**) - Totós que coleccionam moedas, mas com mais sucesso entre as miúdas porque têm mais dinheiro.

Se calhar estou a ficar velho, todavia no meu tempo, receber uma notificação significava sarilhos, habitualmente uma intimação para ir a tribunal ou uma multa para pagar nas finanças. Aliás, sempre achei triste o Estado apenas nos contactar para dar más notícias, logo a nós que pagamos tantos impostos. Acho que seria de bom tom receber um cartão de boas festas ou um desconto no aniversário de vez em quando. Do género:  Faz anos? Parabéns, neste dia não paga IVA. Ficaria pelo menos 23% mais feliz

Voltando ao âmago da questão, antigamente era notificado logo assustado, enquanto que hoje em dia andamos por aí alegremente notificados. Ora são emails recebidos, ora  é o WhatsApp ou até Twittes. E permitimos isto. As únicas notificações de que sou parTindário não posso revelar aqui... 

As notificações que recebo tem um espectro estupidamente alargado. Podendo ir desde um e-mail importante do trabalho, passando para as não menos importantes mensagens do whatsapp sobre se no último jogo do Benfica, como por exemplo, se o Rafa estava ou não fora-de-jogo. Até aqueles vídeos que aparentemente são de lindos bebés a brincar com gatinhos, mas que quando se abrem têm afinal uma atriz porno a ganir histericamente, criando um ambiente incomodo se o telefone não estiver em silêncio (já me aconteceu isto a meio de um casamento).  

Adicionalmente, queria confessar que se recebo uma notificação sou incapaz de não ir logo ver o que é, senão fico logo a suar como um porco. É como se alguém me tocasse na campainha de casa. Sou incapaz de ficar a ver a luz indicativa de notificação do telemóvel a piscar, não sei, se calhar tenho medo que se funda. Sinto que esta minha inquietação perante qualquer notificação poderá ser uma condição patológica que apenas se resolveria com terapia de choque. Algo deste género:

-ficar fechado numa sala durante uma semana apenas com 10 cachos de banana, algumas revistas Nova Gente com o José Castelo Branco  e sua Lady na capa e um penico;
-um Nokia 3310 constantemente a receber notificações sinalizadas por um toque polifónico da Britney Spears (talvez da música Toxic); 
-caso não fosse capaz de resistir e fosse pegar no telefone a sala começava a inundar-se com cobras de plástico com a cara do palhaço Batatinha, até não haver mais espaço na sala, tendo assim grande probabilidade de padecer (como no jogo Snake). 

Sobre a terapia apenas acrescento o seguinte: em caso de dúvidas ou persistência dos sintomas consulte o seu médico ou farmacêutico.

P.S.: Caso receba uma notificação por causa desta porcaria de Post pedimos, apesar de alheios a tal facto, as mais sinceras desculpas pelos incómodos causados. 

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Desta vez a recomendação cinéfila recaiu sobre um documentário, American Factory disponivel na Netflix. Trata-se do relato da implementação de uma empresa chinesa no Ohio (EUA), um estado assolado pelo desemprego durante a última crise. O choque de culturas e o quão distantes estão foi algo que me fez reflectir bastante. Eis o trailer:


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Post de Pescada nº2: Presentes

Esta semana o tema é Presentes. Não o plural do tempo verbal, embora esse assunto tivesse pano para mangas. Por exemplo, vivemos no presente com o objectivo de ter memórias futuras de pretéritos-perfeitos, ou melhor ainda, de pretéritos-mais-que-perfeitos porque queremos um passado o melhor possível. E pronto encarnei no Gustavo Santos, o advogado do Pré-sente (ver artigo brega do autor sobre o tema). Alguém me pode fazer um exorcismo? Quando escorrer azeite dos olhos quer dizer que o Gustavo já saiu...


Bom.... Agora sobre Presentes de Natal. Segundo uma pesquisa de 40 segs que efectuei, esta tradição terá surgido com os reis magos e as suas ofertas ao menino Jesus (*). No fundo são os verdadeiros “Pais” do consumismo natalício. 

Segundo a Wikipedia, uma descrição dos reis magos foi feita por São Beda (não confundir com São Boda), o Venerável (673-735), que no seu tratado “Excerpta et Colletanea” assim relata: “Belchior (**) era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz.” 

Sempre me questionei acerca das razões que levaram estes Magos a demorar cerca de 11 dias a chegar ao estábulo após o nascimento de Jesus. Será que o céu estava nublado e não conseguiam ver as estrelas para se guiar? Será que um dos camelos gripou no caminho ou teve um furo no casco? Será que tiveram de esperar pelo Belchior porque como era velho conduzia devagar? 

Julgo, no entanto, que se o Messias nascesse nos dias de hoje, os magos estavam tramados. Consigo imaginá-los nas vésperas a tentar arranjar os presentes e a verem-se perdidos nos centros comerciais, a ter de estacionar os camelos em segunda fila ou a ter de ligar uns para os outros, como por exemplo:

- oh Belchior já conseguiste arranjar o Ouro? Não? É que estou no Colombo mas isto está o Texas, estou há 3 horas na Zara Home para comprar incenso. Se calhar é melhor ires ao El Corte. Bem te disse para comprares na blackfriday, para o ano usamos o Aliexpress. E o Baltasar já tratou da mirra? O quê? Não sabe o que é Mirra? Mirra é…é… coiso…vá tenho de desligar, um tipo EMEL está-me a bloquear o camelo e ele já lhe está cuspir nas trombas. 

Já na óptica de Maria e José, tendo em conta o preço a que estão as fraldas, acho que dispensavam o Ouro, Incenso e a Mirra em prol de fraldas, pó-de-talco e halibutt. 

Para terminar, o raio dos magos deram origem ao bolo-rei. Um bolo cheio de frutas que parecem saídas de uma horta de Chernobyl, tal o seu aspecto e sabor meio radioactivo. Acho que o verdadeiro castigo para quem calha a fava no bolo-rei seria ter de comer toda a fruta cristalizada do bolo-rei do ano seguinte, além de ter de pagar o próprio bolo. 

(*) Como ouvi em algum lado, a expressão “menino Jesus” parece saída de uma qualquer casa de uma tia de Cascais. 
(**) Ou Melchior ou Melquior ou Belquior. Vi o nome escrito de 4 formas diferentes, o que pode significar que este mago ou era fanhoso ou como era velho já não tinha dentes, não se percebendo nada do que dizia, inclusivamente o próprio nome. 

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Recentemente vi o Dolemite is my Name, que é protagonizado pelo “velhinho” Eddie Murphy, um actor que parecia com o seu Mojo perdido mas que, de repente, presenteia-nos com esta óptima performance. A narrativa do filme baseia-se em factos verídicos e gira em torno de Dolemite, um self-made man na área do entretimento, que contra todas as expectativas consegue atingir, todos, ou quase todos os seus objectivos. Não sei se a época natalícia me torna mais condescendente, mas achei este filme inspirador, com vontade de bater punho e ser empreendedor, no entanto, 5 minutos depois essa vontade já se tinha naturalmente esfumado. Destaco ainda a banda sonora e as participações bastante cómicas de Wesley Snipes e Snoop Dog (esse mesmo). Eis o trailer: