domingo, 23 de fevereiro de 2014

O Mundo encantado dos ginásios

A época natalícia é propícia a excessos gastronómicos. Comemos como se fossemos hibernar, o que depois não acontece. Quando pensava que o enchimento do bandulho tinha finalmente acabado, fui bombardeado com casamentos, baptizados e jantares de despedida. Não há balança que aguente o peso das rabanadas, dos coscorões ou do leitão à Bairrada. A minha inclusivamente começou deixar de mostrar o peso e em vez disso começou a emitir mensagens do género: "Uma pessoa de cada vez, por favor"; "Pensas que sou feita de vidro duplo?"; " Fernando Mendes, és tu?" ou " Não te inscrevas num ginásio, não". Considerei o que a balança me disse e decidi aproveitar a última mensagem inscrevendo-me num ginásio.

O mundo encantado dos ginásios parece ter saído de uma outra dimensão. Um espaço decorado com maquinaria de tortura e povoado por capatazes com as letras "P" e "T" estampadas nas costas, que sem misericórdia puxam pela dor e esforço dos sócios, seres com gosto pelo sofrimento, passeando-se de t-shirt e de calções de licra. 

Mas neste universo existem contradições. Como por exemplo, a existência de machos carregados de testosterona a levantar centenas de quilogramas, demonstrando toda a sua virilidade por um lado e por outro, toda a sua mariquice utilizando luvinhas para não estragar as mãos. Macho que é macho tem de exibir calos nas mãos do tamanho de pregos.

E depois, rapar as pernas? O peito e as costas compreende-se, afinal não estamos no planeta dos macacos. Agora, pernas rapadas... Já é esticar a corda. Se é para ter pernas de miss, que vão treinar de tacão e mini-saia. 

Os ginásios parecem concebidos segundo o conceito da bruxa má da branca de neve, dada a quantidade de espelhos, que normalmente decoram estes espaços. Quando vejo alguém a olhar para o espelho contemplando seu músculo, creio que estará a pensar: " Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais musculado que eu."

Devo dizer que após o meu primeiro treino deixei uma nota nas caixas de sugestões. A ideia baseava-se naquela velha ideia da cenoura à frente burro. Neste caso, seria o leitão à bairrada à frente do corredor. Sabe-se que o exercício puxa a fome, logo a performance nas passadeiras aumentaria se imagens de grandes iguarias passassem em telas enquanto se corre. E já agora, alem de imagens se fosse possível arranjar ambientadores, tipo toque e fresh*, com odores de grandes pratos, penso que também ajudaria. 

Bem, esta conversa deu-me uma larica, vou majé almoçar, não sem antes recomendar um filme relacionado com o tema: O Professor Chanfrado


O Professor Chanfrado estreou em 1996, quando eu tinha 10 anos. Fui vê-lo ao cinema e na altura achei o máximo! Lembro-me de ter achado um piadão. Recentemente, numa reposição em TV, revi o filme e entrei em choque. O filme não tinha metade da piada que me lembrava. Embora com boas ideias, o roteiro é fraco e as piadas são básicas, do género flatulências e arrotos. Com 10 anos achamos piada a este tipo de coisas, com quase trinta já não. No entanto, o filme passa uma mensagem importante, a nossa imagem depende mais dos nossos actos do que da nossa carinha laroca. 

* Penso que já existe o toque e fresh arroz de pato, ou o toque e fresh chanfana.