sábado, 16 de julho de 2011

Pedro

O meu nome é Pedro e esta é a minha primeira contribuição para Lúcifer. Curioso chamar-me Pedro, homónimo do edificador da igreja. Segundo a Bíblia ( não confundir com o Livro Finanças, do professor Elísio Brandão), Jesus uma vez disse a Pedro, na altura em que ainda se chamava Simão: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim Meu Pai que está nos céus. Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja, e as portas do Hades nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus. E o que desligares na terra será desligado nos céus”. E onde está a curiosidade? É que Lúcifer, para quem trabalho neste momento, é um anjo renegado, do reino dos céus. Que se viria a tornar o símbolo da origem de todo o mal e pecado. Concluindo tenho o nome, daquele que tinha as chaves do sítio de onde Lúcifer terá escapado.

As minhas contribuições para Lúcifer, não são mais que a minha visão distorcida da realidade, que me envolve. Não com maldade, mas com muita malícia relatarei alguns episódios que considerarei pitorescos e bacocos.

Quarta-Feira 13 de Julho de 2011 – Acordei eu na manhã frenética, e desde logo iniciei o processo de aperaltamento, o normal no dia de uma entrevista importante. Era uma entrevista decisiva, iria saber se uma empresa de nomeada, me iria contratar ou não. Nem tinha dormido direito, mas após um bom banho estava pronto para enfrentar o dia. Acabei de dançar com o fato, compondo a gravata, com um nó pouco simétrico, mas que tinha sido o melhor de 235 tentativas. Saio de casa, bebo um café no Vermoinho, e apanho o 205 para Campanhã. A entrevista era em Lisboa e eu ia de Intercidades. Olho para o placar electrónico e confirmo que o comboio, com chegada às 13H57, na estação do Oriente, partiria da linha 8. Encaminhei-me para o cais de embarque, sem antes comprar um jornaleco para me entreter na viagem. E aqui é que começo a ver a minha vida andar para trás. Vejo uma cambada de fedelhos, com t-shirts e pulseiras de um conhecido festival de Verão, que iria ocorrer perto Lisboa. Eram autênticas tartarugas, com as casas às costas. Sacos-de-camas, Campings Gaz, colchões, mochilas e tudo o que conseguiam levar.
 Pus as mãos à cabeça, pois apercebi-me que iria de ter de partilhar o meu comboio com Hippies. Sento-me pacientemente ao lado de uns jovens, nos bancos metálicos, à espera e a desesperar.
 Estou eu a ler, uma notícia sobre a Moody s e não é que um cheiro característico me invade as narinas. Era um “canhão”, que estava a ser fumado e partilhado pelos jovens que estavam contíguos a mim. Por momentos, achei que aquele cheiro estava relacionado com a notícia que estava a ler, porque as agências só pedradas é que podiam ter feito o que fizeram. Fiquei em pânico! Vou agora para entrevista, a cheirar a Ganza??? Estou tramado! Pensava eu, já com os olhos vermelhos. FINALMENTE: Bate a hora, no relógio da estação, 10H57 e o comboio chega. Mais ou menos ordeiramente, todos entrámos, eu e os Hippies. Numa luta energética, por espaço cada um ia enfiando as suas mochilas nas parteleiras, ou aconchegando-as entre as pernas. Eu por acaso, tive a sorte de ficar ao lado de uma rapariga que não tinha bagagem. Era morena, com toque latino, olhos escuros e cabelo negro. Não era feia. Pensei eu com os meus botões, “ até tive sorte, não estou ao pé dos hippies e ainda me saiu uma gata”. UHUH! Bufa o comboio e começa a viagem, que iria ser longa. Ao iniciar a marcha a rapariga latina no acento ao lado do meu pergunta-me num espanhol fácil de entender, quantas paragens faltavam para Coimbra. Eu lá lhe disse que eram 6. Ela entretanto mostra-me o bilhete e eu reparo que ela está na carruagem errado. Calei-me que nem um rato. É que aquela rapariga era uma dádiva naquele comboio, devia ser a única além de mim que não trazia a casa atrás. Por azar em Espinho entra um rapaz, que reclama o lugar da espanhola. Após uma breve explicação, ela vai para o lugar que o seu bilhete marcava. O rapaz que se senta ao meu lado, cheirava a ganza! Mas muito! Parecia saído de uma sala de chuto, e vinha carregado que nem uma mula. Ficámos apertados no meio de tanto saco.
A partir daqui tentei adormecer, tarefa quase impossível, pois em cada estação que parávamos entrava alguém que me espetava com um saco de cama na cara, ou me atingia com um cantil na cabeça. Entre Coimbra e Santarém começa-me a dar a fome. Porque não trouxe umas bolachinhas, pensei eu. O pior foi quando ouvi as tampas dos taparwares a saltar, e de imediato se solta um cheiro a rissóis, pizza, panados e batatas fritas que me puseram louco. Tive quase a dar um soco num dos fedelhos e roubar-lhe o rissol  guarnecido que estava a comer. Lá me aguentei, roendo as unhas.
13H52, chega o comboio ao Oriente e lá vou eu para a entrevista. Curiosamente correu muito bem. Será que toda a ganza que fumei passivamente me acalmou, e me deu a tranquilidade suficiente para fazer uma boa entrevista?

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